terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O QUE VOCE ACHA DISSO ?

UMA REFLEXÃO SOBRE ... ARQUITETURA

 Sempre me pareceu ser uma profissão onde eu teria a oportunidade de tonar realidade minha habilidade de transformar um desejo em espaço funcional, seja ele para qual fosse utilizado, visualizado ou sentido. Hoje com um pouco mais de 35 anos de vida profissional, estou descobrindo que a arquitetura se faz no dia a dia, com muita observação, disciplina e bom senso.
Não é fácil sobreviver e ser arquiteto ao mesmo tempo, posso falar com propriedade sobre isso, afinal meu escritório estará completando 25 anos este ano e chegar até aqui não foi nada fácil.
Em 1987 a CND iniciou seus trabalhos, estava saindo da faculdade e já tinha uma boa experiência na área de desenho técnico e uma boa noção de estruturas e edificações, por conta de estágios e do meu interesse na área de projetos. O que eu não sabia e que faltava muita coisa para aprender e foi neste momento que eu comecei a entender arquitetura.
Não a Arquitetura das faculdades, das revistas ou do glamour, mas sim, a Arquitetura do Possível, como eu costumo chamar. Sem entrar em grandes polemicas e nem citar os posso “Niemeyers da vida” garantir que, fazer Arquitetura, onde a educação é privilégio de poucos e as oportunidades são dirigidas aos apadrinhados, não é fácil. Bom, este é um assunto para outra hora.
Quando a representação gráfica deixou de ser feita no papel para ser realizada em uma tela de computador, uma grande parte da criação se perdeu, não pelo processo, mais pelo traço. Quem desenhou centenas e centenas de A0, com um conjunto de penas graphos e tinha sempre um normógrafo do lado sabe do que eu estou falando. O ato de “quebrar a munheca” foi substituído pelo clicar de um mouse e com  este ganho de tempo na maquina, perdeu-se para sempre o momento magico de viver no papel, seu espaço criado, a cada linha traçada. Este processo é difícil de ser entendido por quem não viveu este tempo de mudanças ou aqueles arquitetos que nunca sujaram as mãos com nanquim, de qualquer forma o meu tecnigráfo já foi para o museu junto com as graphos e o normógrafo. Hoje em meu escritório temos o que há de melhor em plataformas gráfica dando apoio as nossas criações, impossível lutar contra isto, aqui adaptação é sinônimo de sobrevivência.
Criar em Arquitetura tem um inicio um meio e nunca um fim, pois se você acha que um projeto é definitivo é por que ele já se perdeu no tempo, portanto não tem a capacidade de se recriar. Eu pratico Arquitetura a todo o momento, não consigo ver alguma coisa que, talvez, não ficasse melhor assim ou assado, acho deplorável esta coisa de Arquitetura eterna e seus equivocados criadores, ainda mais em um mundo que, a cada dia que se passa, vemos como fizemos errado e continuamos fazendo e destruindo nosso planeta. Sou um entusiasmado divulgador e praticante da Arquitetura Sustentável e tudo o que ela representa.
Dai as pessoas perguntam:  - Mas como é possível um projeto se recriar? - Como uma construção, após sua finalização, pode se recriar? A resposta esta no conceito da criação. Imagine que você é contratado para desenvolver um projeto de estádio de futebol para a Copa de 2014. Bem improvável (papo para outra hora), porem só imagine, você pensaria em uma obra de arte onde seu nome ficaria assinado para sempre ou se preocuparia com a possível reutilização do mesmo espaço porem com outra função, por exemplo, uma faculdade publica, um hospital, ou moradia popular ou até mesmo um belo condomínio de escritórios de alto padrão?! Neste momento começamos a diferenciar quem pensa de quem acha que pensa!!
Não é simples assim, por isso mesmo, este é o negocio do arquiteto, saber fazer Arquitetura. Tenho colegas que celebram os caras das antigas, tudo bem, mas vamos viver nosso tempo, é preciso entender que o espaço pensado hoje pode fazer muita falta no futuro, tanto no que se refere a construções como na preservação da natureza. Desmatar para criar gado ou realizar plantações infinitas é assinar nossa sentença de morte, porem o mesmo ocorre quando se permite adensar e verticalizar cada vez mais o espaço urbano, já vimos que assim não funciona e infelizmente o poder financeiro e politico prevalece.
Isso tudo é Arquitetura, a calçada em que você anda, o carro que você dirige, o garfo que você coloca na boca, a roupa que você usa, o ar que você respira, o verde que você não vê, a qualidade de vida que você não tem e tudo com o qual você sonha e a realidade que você vive. Pensar Arquitetura e tão importante quanto o corte preciso do bisturi de um cirurgião, ou a solda perfeita em uma tubulação de gás, se você reconhece que seu projeto não tem esta cumplicidade e nem esta dimensão de importância, não pense em ser arquiteto, contrate um.
Alguns dos projetos mais importantes da CND foram feitos em guardanapos de papel ou até mesmo em alguma plataforma pouco usual para um croqui, porem sempre tiveram seus primeiros traços feitos a partir da vivencia e da observação, do bom senso e respeito a natureza, da análise urbana e social, do impacto visual e antes de tudo da consciência de que tudo muda e deve se adaptar ao tempo. Você pode projetar uma torre de 300 andares, agora, destruir uma montanha só para recobri-la de granito é o fim do mundo.
Não é fácil você ver as coisas acontecerem de forma tão descontrolada e com muito pouco direcionamento, porem vejo as coisas mudando. Das ultimas vezes em que propus a alguns clientes, de que deveríamos ter uma postura mais sustentável, levantando questões com relação aos R.S. e o uso  de materiais com procedência correta aliado a materiais reciclados, obtive boa aceitação, porem na medida em que você oferece soluções fora do contexto e ainda pouco utilizadas aqui, o pessoal não aceita. Não é fácil, dai a educação e o bom senso de que tanto falo.
Como sou um dos sócios da CND e também trabalhamos com gerenciamento de obras e os mais variados processos de execução de obras e manutenção, tenho contato direto com os procedimentos aplicados a determinados serviços. Mais uma vez aqui, também temos o diagnostico de como a nossa “mão de obra especializada” necessita com urgência de uma reciclagem, ou no mínimo, voltar para a escola. Desenvolvemos processos informatizados de gerenciamento em tempo real, o que facilitou em muito, nossas vidas e de nossos clientes, porem, até acontecer  uma adaptação por parte dos colaboradores, demoramos mais de ano.
De qualquer forma o grande desafio é você não passar despercebido, se isso acontecer sua produção foi no mínimo medíocre. Lute contra isso, já somos bombardeados a todo momento com um monte de informações que só desviam mossa percepção da realidade, seja pelo menos um pouco mais critico com relação as suas ações e você estará começando a pensar como um arquiteto. Seja feliz e viva em harmonia com o seu mundo, afinal ele também é finito.


Claudio Lorenzetti
Arquiteto, Urbanista, Ativista, Ciclista, Surfista, Pai, Corredor, Observador, Velejador,  entre outros “istas” .
Diretor de operações da CND
claudio.lorenzetti@cndarquitetura.com.br